foto: Paulo Jares


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"O tempo tem tempo de tempo ser,
o tempo tem tempo de tempo dar,
ao tempo da noite que vai, correr,
o tempo do dia que vai chegar."

Ruy Barata

Ruy Guilherme Paranatinga Barata foi e, pelo menos através de sua obra, continua sendo um dos encantados da poesia. O Pajé que veio das "profundas" e instalou a modernidade da poesia paraoara (adjetivo que caracteriza o natural do Pará). Seu próprio nome traz essa identidade: PARANATINGA, na região, significa rio (paraná) branco (tinga) ou, como queiram, rio de águas claras. Sua relação com a Amazônia e elemento essente, as águas, é como se fosse predestinada. Isso sem falar que nasceu na esquina (ou "canto" como fala o paraense) dos rios Tapajós e Amazonas, na cidade de Santarém.

Filho de Alarico de Barros Barata, rábula de expressão na região, e de Maria José Paranatinga Barata, Dona Noca, que "cantava como poucas pessoas vi cantar", segundo o próprio Ruy, é fácil compreender o seu pendor para as letras e a música, ou, trocando em miúdos, a poesia. Poesia que se completa tendo no bojo na bujarrona, o húmus silvestre dos "ianomaas" (ou anagrama de Amazônia). A exemplo daquele povo indígena, que resiste como um dos últimos redutos de cultura nativa frente aos dógmas ditos civilizados, a obra de Ruy Barata, principalmente em sua fase final (antes de sua morte em 1990), demonstra quem atingiu a completude do cíclico, em que o novo é a reinvenção com os olhos que nunca viram a novidade no velho.

Isso tudo aliado ao fato de quem fala com a propriedade, de quem tem o conhecimento de causa: a poesia cabocla feita pelo caboclo "mocorongo" (nascido ou natural da cidade de Santarém, Pará). Porque só podemos falar em literatura amazônica com o surgimento do homem amazônico, fruto de um lento processo de aculturação à terra, forjado com ela. Este portanto já é um primeiro indício de modernidade em Ruy Barata, a busca de uma expressão literária autônoma à literatura brasileira. É a fragmentação que, partindo do código literário nacional, busca redimensioná-lo ao universo amazônico: "Eu sou de um país que se chama Pará", diria na letra da música Porto Caribe, parceria com Paulo André Barata, seu filho e grande parceiro musical. Para Ruy Barata "a chamada letra regional é sempre uma letra política" e completa:

"O opressor sempre impõe a sua linguagem.
O regional foge a essa imposição.
Todas as minhas letras são políticas (...).
Flagram uma realidade local e, necessariamente,
não servem a qualquer regime".

Ruy Barata

José Guilherme Fernandes
Professor de Fundamentos da Linguagem na UEPa.
Mestrando em Teoria Literária.
Trecho de "Paranatinga, o nativo das águas na res da brasilidade".
publicado em "Asas da Palavra"
Revista do Curso de Letras da UNAMA - Universidade da Amazônia.
junho/ 1995

1 2 3 4foto: Geraldo Ramos

1. Antonio Bento Paranatinga (avô) e Alarico Barata (pai) em 1920; 2. Ruy Barata aos 9 anos; 3. Ruy Barata ; 4. Ruy Barata e Paulo André Barata


COMENTÁRIOS

"Paulo André e Ruy Barata,
dois especialistas em versos de contundentes imagens locais"
(Tárik de Souza)

* * *

"Letras que irão despertar o interesse dos estudiosos da língua brasileira"
(Sérgio Cabral)

* * *

"...nas letras que faz para as músicas de Paulo André tem conseguido revelar,
com inspiração e habilidade, a doçura e o mistério de palavras e expressões
que só a Amazônia conhecia, além dos amigos, é claro,
que com ele já viram muitas madrugadas"
(Revista "Homem")

* * *

"A poesia de Ruy Barata é uma poesia identificada com a América Latina,
com o Terceiro Mundo, produzida no seio de uma intensa militância política.
É uma poesia sem fronteiras - política e lingüística que revela o homem
cantando a liberdade (Me trae una Cuba-Libre), denunciando
a repressão (Canção do poeta vigiado pela polícia), gritando de dor
(Canto fúnebre para Lumumba, Canção do guerrilheiro torturado)."
(Telma Lobo)

* * *

"O Ruy era poeta em tempo integral,
com direito à gratificação por dedicação exclusiva"
(Chembra Bandeira)

* * *

"O bar recolheu suas mesas,
a noite já não está mais interessada em prolongar-se,
a poesia pensa-se ensurdecida, falta-nos sua voz."
(Bel Fares)

 

Ruy Guilherme Paranatinga Barata
( 1920 - 1990 )