O PoemaO Poema

Marina Tsvetaeva (1892-1941)

Marina Tsvetaeva publicou seus primeiros poemas aos 16 anos. Opôs-se violentamente à Revolução de Outubro e exaltou em versos o Exército "Branco". Deixou a Rússia em 1922, a fim de se reunir ao marido, que fora oficial "branco" na Guerra Civil. Suas relações com os emigrados "brancos" foram, porém, se deteriorando, chegando ao rompimento total.

Concisos, ásperos, severos, de uma severidade que se alterna com certa tendência para o fluente e o musical, seus versos são certamente dos mais belos e realizados da poesia russa deste século. Deixou também reminiscências, crônicas, etc. Sua obra é acessível apenas em parte, quer na União Soviética, quer no Ocidente.

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( publicado no livro Poesia Russa Moderna
com tradução e comentários de Augusto de Campos
Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman - 
Editora Brasiliense 1985)
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 Evening Album 
(Vechernii al'bom, 1910)

The Magic Lantern 
(Volshebnyi fonar', 1912)

Mileposts 
(Versty, 1921)

Mileposts: Book One 
(Versty, Vypusk I, 1922)

Poems to Blok 
(Stikhi k Bloku, 1922)

Separation 
(Razluka, 1922)

Psyche 
(Psikheya, 1923)

The Swans' Demesne 
(Lebedinyi stan, 
Stikhi 1917-1921

published in 1957)

Craft 
(Remeslo, 1923
in Berlin

After Russia 
(Posle Rossii, 1928
in Paris


The Poet and Time 
(Poet i vremya, 1932)

Art in the Light
of Conscience
(Iskusstvo pri svete 
sovesti
, 1932)

The House at Old Pimen 
(Dom u Starogo Pimena, 
1934
)

Mother and Music 
(Mat' i muzyka, 1935)

The Devil 
(Chert, 1935)

My Pushkin 
(Moi Pushkin, 1937)

    




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Marina Tsvetaeva (1 ano 1893)
Marina Tsvetaeva com sua filha (22 anos 1914)
Marina Tsvetaeva em Paris (33 anos 1925)
Marina Tsvetaeva (40 anos 1932)
Marina Tsvetaeva
Marina Tsvetaeva em Moscou (48 anos 1940)

 

marina tsvetaeva DO CICLO O ALUNO

Pelos montes - túmidos e úmidos,
Sob o sol - potente e poento,
Com a bota - tímida e humilde -
Atrás do manto - roxo e roto.

Pelas areias - ávidas e ácidas,
Sob o sol - candente e sedento,
Com a bota - tímida e humilde -
Atrás do manto - rasto e rasto.

Pelas ondas - rábidas e rápidas,
Sob o sol - idoso e iroso,
Com a bota - tímida e humilde -
Atrás do manto - que mente e mente...

(Trad. Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)

 

 

Mão esquerda contra a direita.
Tua alma e minha alma - tentes.
Fusão, beatitude que abrasa.
Direita e esquerda - duas asas.
Roda o tufão, o abismo fez-se
Da asa esquerda à asa direita.

(Trad. Haroldo de Campos)

 

A VLADIMIR MAIAKÓVSKI

A cima das cruzes e dos topos,
Arcanjo sólido, passo firme,
Batizado a fumaça e a fogo -
Salve, pelos séculos, Vladímir!

Ele é dois: a lei e a exceção,
Ele é dois: cavalo e cavaleiro.
Toma fôlego, cospe nas mãos:
Resiste, triunfo carreteiro.

Escura altivez, soberba tosca,
Tribuno dos prodígios da praça,
Que trocou pela pedra mais fosca
O diamante lavrado e sem jaça.

Saúdo-te, trovão pedregoso!
Boceja, cumprimenta - e ligeiro
Toma o timão, rema no teu vôo
Áspero de arcanjo carreteiro.

(Trad. Haroldo de Campos)


A CARTA

Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro - uma palavra
Apenas. Isto é tudo.

Assim não se espera o bem.
Assim se espera - o fim:
Salva de soldados,
No peito - três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só. Isto é tudo.

Felicidade? E a idade?
A flor - floriu.
Quadrado do pátio:
Bocas de fuzil.

(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da morte
Viver é bastante.

Quadrado da carta.

(Trad. Augusto de Campos)


À VIDA

Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.

Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe -
E abre a veia da vida.

(Trad. Haroldo de Campos)


À VIDA

Não colherás no meu rosto sem ruga
A cor, violenta correnteza.
És caçadora - eu não sou presa.
És a perseguição - eu sou a fuga.
Não colherás viva minha alma!
Acossado, em pleno tropel,
Arqueia o pescoço e rasga
A veia com os dentes - o corcel
Árabe

(Trad. Augusto de Campos)


 

Silêncio, palmas!
Cessa o teu apelo,
Sucesso!
              Um só palmo:
Mesa e cotovelo.

Cala-te, festa!
Cotação, contém-te!
Cotovelo e testa.
Cotovelo e monte.

Juventude - rir.
Velhice - aquecer.
Que tempo pra ser?
Para onde ir?

Mesmo num tugúrio,
Sem uma pessoa:
Torneira - murmúrio,
Cadeira - ressoa,

Boca recomenda
- Mole caramelo -
Mais uma comenda
"Pelo amor do Belo".

Se vocês soubessem,
Longe ou perto, gente,
Como esta cabeça
Me deixa doente -

Deus numa quadrilha!
A estepe é vala,
Paraíso - ilha
Onde não se fala.

Macho - animal,
Dono - vender!
A Deus é igual
O que me der

(Venham de vez
Dias a juros!)
Pata a mudez -
Quatro muros.

(Trad. Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)


NEREIDA

Nereida! Onda!
Ela. Eu. Nós dois.
Nada além de
Onda ou náiade.

Teu nome, tumba,
Reconheço, onde for,
Na fé - o altar, no altar - a cruz.
O terceiro, no amor.

(Trad. Augusto de Campos)

 


Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.

         Pelas bordas - à margem -
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.

(Trad. Augusto de Campos)



TOMARAM . . .

"Os tchecos se acercavam dos alemães e cuspiam." 
(Cf. jornais de março de 1939)

Tomaram logo e com espaço:
Tomaram fontes e montanhas,
Tomaram o carvão e o aço,
Nosso cristal, nossas entranhas.

Tomaram trevos e campinas,
Tomaram o Norte e o Oeste,
Tomaram mel, tomaram minas,
Tomaram o Sul e o Leste.

Tomaram a Vary e a Tatry,
Tomaram o perto e o distante,
Tomaram mais que o horizonte:
A luta pela terra pátria.

Tomaram balas e espingardas,
Tomaram cal e gente viva.
Porém enquanto houver saliva
Todo o país está em armas.

(Trad. Augusto de Campos)

 

 

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