O PoemaO Poema




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Um dos mais notáveis autores da produção literária contemporânea, Jacques Roubaud nasceu em Caluire (Rhône), França, em 1932. Poeta, ensaísta e matemático, além de ter traduzido ou adaptado a poesia clássica japonesa e a poesia americana. Professor da Escola de Hautes Études en Sciences Sociales, membro do grupo OuLiPo (Ouvroir de la Littérature Potentielle) de literatura experimental e do Alamo (Atelier de Littérature Assisté par la Mathemátique et les Ordinateurs). Em 1990 foi agraciado com o Grand Prix National de la Poesie.
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(Baseado em comentários do livro: 
Poetas de França Hoje (1945-1995),
Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
Seleção, apresentação e tradução: Mário Laranjeira.
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E (1967)

Autobiographie chapitre X
1977

Graal Fiction
1978

Vieillesse d'Alexandre
1978

Dors
1981

La belle Hortense 
1985

Quelque chose Noir
( Algo : Preto) 
1986

L'enlèvement d'Hortense
1987

Le grand incendie de Londres 
1989

La boucle 
1993

L'invention du fils de Léopréps
poésie et mémoire
1993

Poésie, etcetera: ménage 
1995

Mathématiques
1997

Le voyage d'hiver.
Le voyage d'hiver
(com Georges Pérec)
1997

La ballade et lê chant royal
1998

La bibliothèque de Warburg
2002

Churchill 40 et autres
sonnets de voyage
Portugal, 1997.

Doze Nós numa Corda, 
2004



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"a poesia está sempre no começo, e no começo apenas. Devolver a poesia a seu começo, com enigmas, indagações, abismos e aporias é meu grande projeto"

 

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Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
Jacques Roubaud
foto de: Stéphane Lempereur

NÃO POSSO ESCREVER DE TI


Não posso escrever de ti mais veridicamente do que tu mesma.

Não que eu seja incapaz por natureza, mas a verdade de ti, tu a escreveste.

E porque escrevias para só seres lida morta, porque eu a li, tu morta, e feita minha, esta verdade é a mais forte de todas.

Não poderei ultrapassá-la.

O que detenho de ti, o que me concerne a mim só, não é da ordem da verdade mas da física :

Tocar desde os joelhos até a fronte, gosto de cerveja na língua, perfume nos braços, embaixo, visão e voz, de longe, me queimam : circuitos que não serão obliterados, não por enquanto.

Isso é só meu, e com razão.

Não escreverei de ti senão minha própria altura.

Ou então deito-me e faço sombra.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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ONDE ESTÁS?


Onde estás :
............................quem?

Sob a lâmpada, cercada de preto, disponho-te :

Em duas dimensões

Preto cai

Sob os ângulos. quase uma poeira :

Imagem sem espessura        voz sem espessura

A terra

........................que te esfrega

O mundo

........................do qual nada mais te separa

Sob a lâmpada. na noite. cercado de preto. contra a porta.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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1983 : janeiro ...................... 1985 : junho

O registro rítmico da palavra me horripila.

Não consigo abrir um só livro que contenha poesia.

As horas da tarde devem ser aniquiladas.

Quando acordo tudo preto : sempre.

Em centenas de manhãs pretas refugiei-me.

Leio inofensiva prosa.

Os cômodos ficaram no mesmo estado : as cadeiras, as paredes, as venezianas, as roupas, asportas.

Fecho as portas como se o silêncio.

A luz me ultrapassa pelos ouvidos.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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LUZ, POR EXEMPLO

Luz, por exemplo. preto.

Vidros.

Boca fechada. abrindo-se à língua.

Janela. reunião de gizes.

Seios. depois embaixo. a mão se aproxima. penetra.

Abre

Lábios penetrados. de joelhos.

Lâmpada, lá. molhada

Olhar repleto de tudo.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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RETRATO EM MEDITAÇÃO, V.

Tu não retocas, não mudes palavra alguma.

Nada de ponto de vista inapreensível quanto ao passado.

Sonhos femininos, amarrotados.

O que morre, quando se morre?

Acuada entre duas páginas confinadas entre o teu sono e o meu.

'Não-contacto' das vestimentas moralizadas.

Que diferença, nenhuma, entre amais pretensiosa arte e os pores do sol? a 'poesia' do pôr do sol : de vomitar.

As configurações contavam sós.

.... (todo o resto foi e ficou branco)


tradução: Inês Oseki-Dépré

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ESTA FOTOGRAFIA, TUA ÚLTIMA

Esta fotografia, tua última, deixei-a na parede, entre as duas janelas, por cima,

Da televisão abandonada, e ao entardecer, no golfo de tetos, à esquerda da igreja, quando a luz,

Se concentra, que ao mesmo tempo, escorre, em dois estuários oblíquos, e invariáveis, na imagem,

Sento-me, nesta cadeira, de onde se vê, ao mesmo tempo, a imagem interior ....a fotografia, em volta, o que ela mostra,

Que somente, ao entardecer, coincide, pela direção da luz, com ela, fora isso, que à esquerda, na imagem, olhas,

Para o ponto onde me sento, para ver-te, invisível agora, na luz,

Da tarde, que pesa, sobre o golfo de tetos entre as duas janelas, e eu,

Ausente de teu olhar, que na imagem, fixa, o pensamento dessa imagem, dedicada a isso, nos entardeceres de agora, sem ti, no ponto,

Vacilante da dúvida de tudo.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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<<TODAS AS FOTOGRAFIAS SÃO EU>>


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Perecíveis, sentimentais, eu mesma perecível

Tudo o que se arrisca a perder, dá-lo a ti. vais perdê-lo.

Não me assemelharei sempre ao mundo.

Fui o mundo, eu também.

Semelhante, até a ilusão.

Não dissipo a sombra do esquecimento. eu tento brilhar-me
de luz fora da memória. contrabando indiscernível da lembrança pura.

Entra, assiste à minha infância interior, no segundo lado do tempo

>>


tradução: Inês Oseki-Dépré

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NESTA LUZ, IV


Posta
.........no centro do mundo,.........insistente,
.....em teu próprio nome

'não outro' ...............meu amor
.......inacessível

Sem cor.........dormes..........furiosamente

Imagem.........tua única...........pátria

Amor..........nada mais do que pura
.....repetição

Erra, insiste, subsiste,
.....nos papéis

Tornada
......................redundância do visível

A extensão te surpreenderá

E minha voz, na verdade, retorna,
..........por estas palavras, à tua imagem, que por si mesma,
......aqui, as põe.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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TU ME ESCAPAS


De restos de poemas faço estas frases, de cores tornadas indiferentes. de dias turvos.

Em toda lembrança se perdem as cores, aqui és clara ou sombria, é tudo com que a minha linguagem pode variar.

Interiormente tu me confinas às tuas fotografias.

Tuas cores me escapam uma pela outra. como tuas frases.

Sestas sépias.

Um pedaço de papel branco guarda sua claridade de um céu em que o branco se lavou de cinza, tendo deslizado no sal. esse céu mais luminoso do que o papel.

Em um sentido entretanto ele tinha sido mais sombrio.

Teu corpo assim. tirando toda luz dos meus olhares.

Mas seria correto dizer que minha vista está falhando?


tradução: Inês Oseki-Dépré

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EM MIM


Tua morte não pára de acontecer...............de se acabar.

Não...............tua morte.......morta.........estás..............não há nada a dizer............e o que?.........inútil.

Inútil o irreal do passado..................tempo inqualificável.

Mas tua morte em mim progride........lenta..........incompreensivelmente.

Continuo acordando em tua voz..........tua mão.........teu cheiro.

Continuo a dizer teu nome........teu nome em mim......como se estivesses.

Como se amorte tivesse gelado apenas a ponta de teus dedos apenas tivesse jogado uma camada de silêncio sobre nós..........tivesse parado diante de uma porta.

Eu atrás..............incrédulo.


tradução: Inês Oseki-Dépré

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"ESSE PEDAÇO DE CÉU..."


Este pedaço de céu
doravante
te é consagrado

em que a face cega
da igreja
se encurva

complicada
por uma castanheira,

o sol, ali
hesita
deixa

um vermelho
ainda

antes que terra
emita

tanta ausência

que teus olhos
se exprimem

de nada


tradução: Inês Oseki-Dépré

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