Ferreira Gullar

Ferreira Gullar é o pseudônimo de José Ribamar Ferreira. Nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930. Aos vinte e um anos, já premiado em concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras, e tendo publicado um Iivro de poemas - Um pouco acima do chão (1949) , transferiu-se para o Rio de Janeiro.

No Rio, passou a colaborar em jornais e revistas, inclusive como crítico de arte. Em 1954, publicou A luta corporal, Iivro que abriu caminho para o movimento da poesia concreta, do qual participou inicialmente e com o qual rompeu, para, em 1959, organizar e liderar o grupo neoconcretista, cujo manifesto redigiu e cujas idéias fundamentais expressou num ensaio famoso: Teoria do não-objeto.

Levando suas experiências poéticas às últimas conseqüências, considerou esgotado esse caminho em 1961, e voltou-se para o movimento de cultura popular, integrando-se no CPC da UNE, de que era presidente quando sobreveio o golpe militar de 1964. A partir de 1962, a poesia de Gullar reflete a necessidade moral de lutar contra a injustiça social e a opressão. Ele recomeça sua experiência poética com poemas de cordel e, mais tarde, reelabora a sua linguagem até alcançar a complexidade dos poemas que constituem Dentro da noite veloz, editado em 1975. Em 1964, publica o ensaio Cultura posta em questão e, em 1969, Vanguarda e subdesenvolvimento, em que propõe um novo conceito de vanguarda estética.

Se os versos de Gullar foram e são sensíveis a toda a problemática do homem, o seu teatro segue a mesma linha, em obras de parceria com escritores de igual valor: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), com Oduvaldo Viana Filho; A saída? Onde fica a saída? (1967), com Armando Costa e A. C. Fontoura; e Dr.Getúlio, sua vida e sua glória (1968), com Dias Gomes. Em 1978, edita a peça Um rubi no umbigo.

Forçado a exilar-se do Brasil em 1971, escreve em 1975, em Buenos Aires, o seu livro de maior repercussão, Poema sujo, publicado em 1976 e considerado por Vinicius de Moraes "o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas': Para Otto Maria Carpeaux, "Poema sujo... é a encarnação da saudade daquele que está infelizmente longe de nós, geograficamente, e tão perto de nós como está perto dele, na imaginação do poeta, o Brasil que lhe inspirou esses versos. Poema sujo mereceria ser chamado `Poema nacional` ; porque encarna todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças da vida do homem brasileiro. É o Brasil mesmo, em versos `sujos' e, portanto, sinceros".

Já no Brasil, Gullar publica Antologia poética (1977), Uma luz do chão (1978) e um novo livro de poemas, Na vertigem do dia (1980). Crime na flora, lançado em 1986, guarda características especiais, no dizer de Gullar: "Este texto foi escrito há trinta anos. Ocorreu num período de crise, quando tive a impressão de que não mais escreveria poesia. [...] Não era um poema, era outra coisa. Seria um conto, uma novela? Não me fiz essas perguntas: era um texto de desenvolvimento imprevisível, que permitia explorar uma dimensão fascinante da linguagem. [...] Ao dongo desses trinta anos, mais de uma vez fui tentado a publicá-lo. [...] Ano passado, ao atender a uma solicitação da José Olympio, incluí-o entre meus títulos inéditos. Foi decidida sua publicação."

Gullar publicou, ainda, Indagações de hoje e A estranha vida banal (1989); Barulhos (poemas), em 1987; Argumentação contra a morte da arte (ensaios), em 1993; Cidades inventadas (contos), em 1997; e Rabo de foguete (memórias) em 1998.

(do livro Muitas Vozes - José Olympio Editora.)

Ferreira Gullar / Entrevista

O Poema

© copyright by vasco cavalcante