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Edmondo Jabès
, nasceu no Cairo, Egito, em 1912. Deixou seu país e foi morar na França a partir de 1957, devido a suas origens judaicas. Em 1967, mudou sua nacionalidade e se tornou cidadão francês. Morreu em Paris no dia 2 de janeiro de 1991.

Jabés é muito bem conceituado como poeta e escritor tanto na França, como no exterior.

"A poesia de Jabès sabe aliar como nenhuma outra, tanto na forma quanto na temática, tradição e modernidade" ...( Mário Laranjeira, no livro: Poetas de França Hoje - 1945-1995. EDUSP - Editora da Universidade de São Paulo)



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Je bâtis ma demeure
(Construi minha morada)
,
1943-1957

L'eau du puits, 1955

L'Absence de Lieu, 1956

Chansons pour le repas de l'ogre,
1943-1945

Le Fond de l'eau, 1946

Trois filles de mon quartier,
1947-1948

La voix d'encre, 1949

La clef de voûte, 1949

Les mots tracent,
1943-1951

L'écorce du monde,
1953-1954

Le milieu d'ombre, 1955

Du blanc des mots et du noir
des signes, 1953-1956

Petites incursions dans le monde des masques et des mots, 1956

Le pacte du printemps, 1957

Le Livre des Questions I, II, III,
(O Livro das Questões)
,
1963 - 1965

El ou le Dernier livre, 1973

Récit, 1980

Le livre des marges, 1987

La mémoire et la main, 1974-19891973

I. Des deux mains, 1975

II. Le sang ne lave pas le sang, 1976-1980

Le Livre des Ressemblances,
(O Livro das Semelhanças)
,
1980

Le Livre des Questions IV,
(O Livro das Questões)
,
19
83

Le Livre du dialogue, 1984

L'appel, 1985-19885

Le Livre du partage,
1987

Un Etranger avec, sous le bras,
un livre de petit format
,
1989

 

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"Tu és aquele que escreve e que é escrito."
§
"Não negligencia o eco, pois é de ecos que tu vives."
§
"O livro nos lê."
§
"A arte do escritor consiste em provocar, pouco a pouco, as palavras a se interessarem por seus livros."
§
"As palavras elegem o poeta."
§
"A imagem é formada de palavras que a sonham."
§
"Só o leitor é real."

 

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Edmond Jabès
Edmond Jabès
Edmond Jabès
Edmond Jabès
Edmond Jabès
Edmond Jabès

TERRENO VAGO...

Terreno vago, página obsedada.

Uma morada é uma longa insônia
No caminho encapuzado das minas.

Os meus dias são dias de raízes,
São jugo de amor celebrado.

O céu está sempre por atravessar e
O terraço por nutrir de noites novas.

De meu vagar o luto forma
Enclave no clarão opaco das paredes.

A terra embebe-se em
Vãs visões de viagem.

(tradução: Mário Laranjeira)

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CANÇAÕ PARA UMA NOITE DE LUAR

Tu deslocas as ruas.
A cidade é um labirinto.
Sempre acabo em tua rua.

Tu mudas de nome.
Os dias são meus degraus.
Tua janela é tão alta.

Perco-te de vista.
À tua porta, um ladrão
ataca a fechadura.

Circundas meus sonhos.
Escapas à terra,
Ao inverno, às lágrimas.

(tradução: Mário Laranjeira)

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NOITES DE CONCRETO OU
PALAVRAS ESTRANGEIRAS

(fragmento)

Eu me curvo sobre a palavra de finas escamas
No mar a palavra atordoa
Ela foge por entre os dedos do curioso. Ela vigia o anzol
O pescador é o intruso o monstro
Levanto meus olhos para a palavra de belas plumas
No espaço ela está por um fio por um espanto
Ela vigia o caçador a tempestade O fuzil como a chuva tem pupilas que matam
Capturo a palavra desprevenida
Ela tem um porto de ilha
pernas secretas de areia
um torso de vela
Tem olhos de gaivota
e grandes mãos vazias
onde se refugia o mundo
Segui a palavra por tantos caminhos
Ela se deteve uma vez para me sorrir
Ela não tinha cabeça
nem nuca
Não tinha braços
nem pernas
e minha boca surpresa

modulava seu nome

(tradução: Mário Laranjeira)

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NÃO SE PODE FALAR DO DESERTO...

(fragmento)

Não se pode falar do deserto como de uma paisagem, pois ele é, apesar de sua variedade, ausência de paisagem.

Essa ausência concede a ele sua realidade.

Não se pode falar do deserto como de um lugar; pois ele é, também, um não lugar; o não-lugar de um lugar ou o lugar de um não-lugar.

Não se pode pretender que o deserto seja uma distância, porque ele é, ao mesmo tempo, real distância e não-distância absoluta por causa de sua ausência de marcas. Ele tem, como limites, os quatro horizontes, sendo o que os liga e os separa. Ele é sua própria separação onde ele se torna lugar aberto; abertura do lugar.

Não se pode pretender que o deserto seja o vazio, o nada. Não se pode, tampouco, pretender que ele seja o término, uma vez que ele é, igualmente, o começo.

(tradução: Caio Meira)

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A CANÇÃO DO ESTRANGEIRO

Estou à procura
de um homem que não conheço,
que nunca foi tão eu mesmo
quanto desde que comecei a procurá-lo.
Teria ele meus olhos, minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhantes
aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufrágios,
o mar deixa de ser mar,
para tornar água gelada dos túmulos.
Mas, mais longe, quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto,
enquanto a noite reina sobre as árvores,
pastora em meio a seus carneiros.
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderá mitigar.
Com as pedras, um mundo se devora
para ser, como eu, de parte alguma.

(tradução: Caio Meira)

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Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento!

(tradução: Caio Meira)

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Ele tinha - parecia-lhe - mil

coisas a dizer

a estas palavras que não diziam nada;

que esperavam, alinhadas;

a estas palavras clandestinas,

sem passado ou destino.

E isto o perturbava ao desatino;

a ponto de não ter, ele próprio, mais

nada a dizer,

então.



(tradução: Caio Meira)

 

A QUEM SE FALA QUANDO SE ESCREVE...

(fragmento)

- A quem se fala quando se escreve?
- A um ser acerca de quem nunca se venha a saber se é si mesmo ou um outro.
- Fala-se a um desconhecido?
- Seria absurdo dizer dessa maneira, porém, é a única coisa que podíamos dizer: não se dirigir a ninguém, quando se fala, talvez seja falar apenas consigo mesmo; mas como falar consigo sem imediatamente fazer de si um outro?
- Sobretudo porque nós somos, nós, esse outro.
- Não estou dizendo isso . Você não me compreendeu, ou, fui eu que não me fiz compreender
. Esse outro não é eu mesmo, nem minha invenção. Ele é minha descoberta do outro em mim.
Esboçar o perfil de uma palavra numa folha já é estabelecer uma conversa com a página branca.
Tudo o que vemos, escutamos, tudo do que nos aproximamos, uma vez reconhecido, entra em diálogo conosco.
O livro seria, assim, apenas o espaço circunscrito pela palavra aberta à palavra. Não somos escritos onde ela se escreve, mas inscritos onde ela se apaga.
Há uma linguagem própria que a inscrição tumular nos impõe e nos força ao silêncio. Pesado silêncio em busca de um signo.
Ah! outro - homem, mundo, Deus - mais nós mesmos do que poderíamos sê-lo no segredo de nossas confissões; palavra de uma palavra à qual não ousamos ligar nosso nome; pois se somos tributários dela, ela, contrariamente, mais nos escapa do que nos pertence.
Brancura, brancura de sangue. Séculos de orgulho e de derrotas jazem no vocábulo. Você os desperta ao revelá-lo.
Um livro se entreabre quando nos abandonamos.

(tradução: Caio Meira)

 

AMÃO DESMASCARADA

I

Uma noite para levar
um outro sol.

II

Conhece acaso o cego
a doçura primeira
de ser noite total?

III

"Um sol está em nós...dizia um
sábio.
..O amanhecer o ignora e, no entanto,
fez, da minha vida, perpétuo amanhecer."

IV

"Não há tampouco...dizia, ainda, o
sábio tranparência que, uma vez, não tenha
sido desmascarada."


(tradução: Mário Laranjeira)

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