O ocaso de um Deus em face das interrogações e dos concretos percalços mundanos. Mas como humanizar um Deus? Como não dimensionar o super-homem, estóico, a se divertir dos mortais? Somos transição e declínio. No desenrolar das ânsias, concentra-se o duplo, o embate de nossas paixões.

Pagãos, párias, deserdados a extravasar os ciclos vitais, em contraponto ao estado de isolamento de um Cristo (à cata de redenção), de um Zaratustra (à beira da superação) e de Madalenas (in utero), para, enfim, abismarem-se em desejos.

Em, 1990, com "Em Nome do Amor", Luis Otávio Barata encerrava uma trilogia do encantamento e da devassa, legando à cena paraense uma reforma ou mesmo uma renovação cênica. A escola de Teatro e Dança da UFPa retoma esta peça que é feita de colagens de textos evangélicos, poéticos e filosóficos. Paixão Barata e Madalenas é um libelo em forma de cântico.

São fragmentos da paixão, não de um mero discurso amoroso, mas da paixão em bruto estado de delírio e inquisição. Sem uma narrativa explícita, é o longo calvário de um homem-Deus, ou do super-homem nitchzeano, ou do mero mortal sacralizado em uma trajetória de buscas e desencontros, louvores e paganismo, erotismo e sublimação.

Rodrigo Otávio Barata

Em 2002, o diretor Miguel Santa Brígida, propôs aos seus alunos concluintes do curso de Formação de Ator, a adaptação livre desta obra DE Naum Alves de Souza, mostrando que um texto escrito há vinte anos pode ser exageradamente (e cruelmente) atual.

As personagens funcionam como arquétipos, cuja interação em cena nos faz rir, chorar e, principalmente, pensar; aos poucos os dramas individuais vão se explicitando e ganhando particularidades e profundidades. A crueldade está presente nos alunos, professores e na direção da escola, mas sempre envolta em poesia e humor. Um espetáculo onde a sátira cumpre a importante função de não deixar que a memória de uma época se apague, quando a educação era mais semelhante a um treinamento do que uma maneira de desenvolver a capacidade de refletir.
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Com a proposta de ocupar espaços do patrimônio arquitetônico e histórico de Belém, À flor da Pele nasce com a vontade de falar sobre desejos, e mais!, falar sobre os desejos reprimidos, falar das convenções sociais e dos modelos de conduta pré-concebidos, através da história de seis personagens que vivem numa mesma casa; seis pessoas diferentes, cada qual com seu desejo e sua maneira singular de comprimi-lo. São seres que jamais se vêem e que não se atraem, mas são obrigados a se reunirem num café da manhã, quando vestem carapuças e tornam-se pequenos deuses perfeitos a devorar as fraquezas alheias, como se eles mesmos não tivessem as suas. Todos sabem de tudo! e todos mentem, mentem sem parar, e reprimem suas vontades em prol de uma convivência pacífica.