O PoemaO Poema

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Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.

Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros   poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo.

saber mais                   A Sierguéi Iessiênin

(comentário de Haroldo de Campos
publicado no livro  "Maiakóvski - Poemas"
Editora Perspectiva - 1982)

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A Flauta Vertebrada, 1915

A Nuvem de Calças, 1916

O Homem, 1917

Guerra e Paz, 1918

150 Milhões, 1920

Amo, 1922

A propósito disto, 1923

Lênim, 1925

Muito Bem !, 1927

A Plena Voz, 1930

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Eu, 1913

O Mistério Bufo, 1921

O Percevejo, 1928

O Banho, 1929

 



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"A poesia é uma forma de produção. Dificílima, complexíssima, porém produção."

§

"Sem forma revolucionária não há arte revolucionária."

§

"Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas."

§

"Traduzir poemas é tarefa difícil, especialmente os meus.
........................................
Uma outra razão da dificuldade da tradução de meus versos vem de que introduzo nos versos a linguagem quotidiana, falada...
Tais versos só são compreensíveis e só têm graça se se sente o sistema geral da língua, e são quase intraduzíveis, como jogos de palavras."

 

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Vladimir Maiakóvski
Vladimir Maiakóvski
Vladimir Maiakóvski
Capa do livro Pro Eto - Vladimir Maiakóvski
Óssip Brik, Lília Brik e Maiakóvski
maiakdei3.gif (10462 bytes) DE "V INTERNACIONAL"

Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem.

(tradução:  Augusto de Campos)

 

ESCÁRNIOS

Desatarei a fantasia em cauda de pavão num ciclo de matizes, entregarei a alma ao poder do enxame das rimas imprevistas.
Ânsia de ouvir de novo como me calarão das colunas das revistas esses que sob a árvore nutriz es-
cavam com seus focinhos as raízes.

(tradução:  Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)

 

BLUSA FÁTUA

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"

Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!

Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!

(tradução:  Augusto de Campos

 


A FLAUTA VÉRTEBRA

A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.

Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.

Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.

(tradução:  Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman)

 

EU

Nas calçadas pisadas
                   de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
             Onde
                    forcas
                esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
             pescoço de torres
       oblíquas

   soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                           ilham
à vista
de cruci-
fixos

       polícias

(tradução:  Haroldo de Campos)

 

FRAGMENTOS

1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
               despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
                                       no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
                                                      penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso

2

Passa da uma
                     você deve estar na cama
Você talvez
                 sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
                          Para que acordar-te
com o
         relâmpago
                        de mais um telegrama

3

O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano

4

Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo

5

Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.

(tradução:  Augusto de Campos

 

 

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o poema

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