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Teu
poema
Sonha-me!
que te sonho: tenho esta viagem
que tua estrela crespa, Margaret, das axilas sopra
o herzoguiano barco (au fond
des golfes bruns)
se debatendo, bêbado
nesta garganta
Barco
que arrasto e sirgo selva adentro
(águas
caídas, ecos
da palavra madura, esperma, água sombrada)
e o meu Poema indo
ao léu das febres, ao
que
almejo em ti - a Outra Margem
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Rasuras
Um
buraco sem fundo cheio de palavras
Hakuin
Meu
nome é um rio
Meu nome é um rio que perdeu seu nome
Um
rio
nem sim
nem não
Nenhum
Somenos
correnteza
Água
masturbada em vaus
peraus
em
po
luído
orgasmo entre varizes
Sêmen
sem mim
Mesmice
Onde está meu nome Lá neste rio de
lama sem memória e
rumo?
Neste amarfanhado leito de inchada falha?
Meu nome é um rio cotoco - um Ícone
De
barro
barroco
Um rio que só se-diz
Seduz-se
Se
afaga e afoga
em ego e água: Aquário
Meu nome é um rio tapado
(poço)
E
aqui se quebrantou meu nome
sua
viagem e osso
É esta a sua fissura? E o seu rosto é
este
escuro
atrás da porta
espelho
exposto à febre
à
fera de si mesmo?
Ensimesmado
meu
nome é um rio que não tem cura |
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Gêmeo
No sofrer ou no regalo - alo!
o lado alado, barco zarpando, indo
do Cabo Não e para
um destino de bandeiras
negras de piratas perseguindo-me.
E
se
às vezes me inauguro em praias solitárias,
sagitário inútil sou, gêmeo
sendo (e só)
da gema do poema, prisioneiro
de meu próprio ovo e outro.
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Amargo
Há
um mar, o dos velames,
das praias ardendo em ouro.
Há
outro mar, o mar noturno,
o das marés com a lua
a boiar no fundo
o mênstruo da madrugada.
E
afinal o outro, o do amor amargo,
meu mar particular, o mais profundo,
com recifes sangrando, um mar sedento
e apunhalado.
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Poema
Ocorre-me
o poema.
Contudo há a religião,
A pátria, o calor.
Procuro
ver na noite profunda
Quero esquecer no momento
Que sou o homem de vários documentos.
Forço.
Dói-me o calo desta vida "meu Deus!"...
Lavo
as mãos.
Mas tenho de pôr a gravata,
E salvo a moral. Abano-me.
Rola
o poema e o mundo.
E eu mudo.
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Max
Martins
www.culturapara.art.br/maxmartins
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