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permanência:
a voz avulsa
espalhada pela casa
– palavra
na armadura da caligrafia –
combatendo o silêncio
lâminas
ali
adormecidas sobre a mobília
um pó sobre o pó

hera que se derramou
pelos cômodos
buscando so sol dos diálogos

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celina deitada na tarde
( ressuscitada )
imagino-a outrora desfalecida
no colo
da tarde:

pietá na capela do dia

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do lado errado do mundo
acontece o poema
cidade erguida de cabeça para baixo
sustenta-se num charco
seu archote deve vencer o sol
ultrapassar a retina

oferece a mão furtiva
a engrenagem
torta
da
máquina do mundo

. . .



. . .

espreito
o relógio
guardado
soterrado pela
poeira que ele sopra(va)

rei deposto
de seu trono

mas
ainda
respira
pulsa em ponteiros
o coração eterno
de quem não perde a majestade

. . .


. . .

pe
da
ço
s

de
na
da
com

um
mu
n

do
den
tro

. . .

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. . .

tudo ainda era horizonte
uma possibilidade estirada
uma paisagem de olhos fechados

e uma ferida acesa
sangrando ocaso
secava a mágoa
que o mirava

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o vento sopra com raiva
o oceano guardado
em teus cabelos

a lembrança traz a amizade
e
desembrulhada em frente à baía
ilumina
o farol da tua saudade

vejo os barcos que
se desatam de cada fio
aportando o horizonte silencioso
– outrocontinente
habitado na geografia do lembrar –

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Marcílio Costa
verso30@gmail.com