O CANTO ESTÉRIL
Ao amigo Claudionor
No olhar, esta coisa: estar na orla de si.
Chão inflamado de asas e pálpebras.
Há um despenhadeiro de palavras lúcidas.
Sol latejante no pensamento enegrecido.
Ruído das horas ancoradas na janela.
Navegam peixes de ferro e silêncios.
Ferrugem na procura.
Na cabeça, o homem leva a carga de palavras.
(Descarrega o navio de suas sombras?)
Imprime-se a voz e seu musgo
E o ranço como vindo de alimento.
Mas a boca grita fomes.
Estampa no limo outra face:
Gerânios feitos de restos de fogo,
Um insone prometeu covarde.
Ainda há guerras a perder.
Selo de desertor nos olhos.
(e se a foice da lua decapitasse o céu?)
Alguém vomita uma música.
E tudo se cala marrom.
Porque um canto também é estéril.