O
que foi suor e seiva
nada
agora enrediça |
|
sugando o sangue
. |
O
que foi semente surge |
|
tecendo
a noite nos seios
luar em gotas
. |
O
que foi sede
saciado compassa a espera
nos meses sem mênstruos
. |
O
que foi só
agora é
soma |
|
|
Ruídos
Traduzo meu risco de ser
buscando-te no desvão do eco
da palavra espanto
plantada no olfato de gestos
deste chão que planejo
assim como a natureza
da morte revisitada
em cada ausência. |
|
Porta-retratos
A vida parada num sorriso
que desafia o tempo
e que se destrói
quando alguém
troca a foto
–
que já não toca. |
|
Voyer
Pela
fresta
tua nudez se instala
Mãos
passeiam o corpo
O
vento sopra
O pêlo eriça
O som excita
Tocas
o sexo entreaberto
Há música em minhas mãos
Respira-se ofegante
Derramas-te
no chão
E
eu também |
|
XXII
O
cinzeiro mede a hora
e a alma
O tapete acalma os pés
inquietos
com seu carinho sintético
A lâmpada e seu olho quente
observam a
natureza morta do homem
Só
o relógio, impunemente,
enterra o tempo
entre os ponteiros |
|
1964
Então,
foi decretado o escuro.
Eu, que nem iniciara
o aprendizado da luz,
fiquei sem sol.
|
|