Rio
Silêncio
Entre
estrela e miséria o rastro
do
viajante risca o caminho, entre
o
aroma da rosa azulada que à beira
da
estrada ascende ao topo da noite
e
o fedor da chaga, que, à outra beira
da
estrada estende e abre a mão de
cinco
pétalas, desabrochando numa
súplica
à margem de lama
O
viajante dilata as narinas ao passar
pelo
aroma da rosa azulada — estrela
de
braços abertos no céu da estrada,
e
estende e tenta dar a mão à chaga
que
quer florir acima da urtiga
e
da lama à margem avermelhada
De
quando em quando o caminho se bifurca
e
atrai para os lados a atenção do viajante
que
procura manter seu curso
enquanto
a sereia canta, chama
à
flor de uma poça d’água —
poço
de
lodo sem fundo a cada encruzilhada
(Do
livro Rio Silêncio, de Antônio Moura,
Lumme Editor, 2004)
|