trancafiemos as portas e janelas
com cuidado meu amor
com o cuidado igual
ao que zelamos de um
doente implorando a vida
receio a noite
porque ela tem uma mania estranha
de aprofundar os cômodos
sem alarde
passe os ferrolhos
com cautela
a noite é um medo faminto
deixei uma bandeira branca
no desejo de fixar no alpendre
nas primeiras horas de amanhã
não afrontaremos a penumbra
a nossa indigência
requer manhãs
encarceremos neste recinto
nossa ânsia de cores
que o amanhecer ainda vai demorar
tranque as portas e janelas, meu amor
vem, que a única coisa boa da noite
é o nosso amar.