Uma Brevíssima História do Teatro no Pará
por Karine Jansen
O teatro no Pará, nos moldes europeus, desembarca junto com os missionários e colonos europeus com a função de evangelizar e entreter as famílias economicamente privilegiadas. Segundo Vicente Salles (1), isso ocorreu por volta do século XVII. O historiador noticia que a primeira Paixão de Cristo realizou-se em 1654. Assim como em 1677, na portaria do convento das Mercês aconteceu a encenação de uma comédia, o que na época, pareceu perfeitamente compatível com as missões evangelizadoras.
O Estado viveu um período de grande produção artística no ciclo da borracha. Momento em que a capital produziu e também recebeu inúmeras companhias artísticas do Brasil e exterior. A construção do Theatro da Paz em 1878 aconteceu como conseqüência deste período. O declínio deste ciclo também criou boas cenas.
Se o declínio da Borracha gerou o afastamento das grandes produções dos palcos no Pará, devemos a ela o fenômeno da cena popular, ou como prefere Salles “o teatro da ralé, das massas, dos que não podiam fazer platéia nos teatros oficiais”, aconteceu em Belém uma valorosa mistura entre os brincantes dos folguedos populares com os artistas e acadêmicos desempregados e portanto, sem perspectivas de uma produção mais comercial. Esta curiosa aliança foi designada de o teatro de época. Uma produção ligada a períodos como o Natal, a Quaresma, as comemorações de São João, Carnaval e até mesmo a festividade de Nossa Senhora de Nazaré.
A cena no Pará se multiplica e diversifica sobre a influência do teatro de revista carioca trazido inicialmente para Belém através do Grupo de Teatro Arthur Azevedo. O teatro de revista teve aceitação não apenas no Estado como atingiu toda a faixa do litoral brasileiro, chegando com repercussão a capital brasileira, na época o Rio de Janeiro.
Em 1919, temos as primeiras noticias do teatro dos estudantes, em um primeiro momento sem grande apelo popular, sustentava-se pela tutela dos donos dos colégios particulares que os produzia. Esta denominação ressurge em 1941 com muita força, sob a direção artística Margarida Schiwazzappa, que mais tarde iria dirigir o Norte Teatro Escola. Salles credita, com muita justiça, a produção deste grupo a um novo tempo no teatro do Pará, o que para muitos representou o nascimento do teatro moderno paraense. A cena emblemática da produção deste grupo diz respeito a primeira montagem de Morte e Vida Severina(1958) no Brasil, texto devidamente autorizado pelo autor João Cabral de Melo Neto. A encenação foi assinada pela diretora Maria Silvia Nunes, e tomou importância e reconhecimento no Festival de Teatro do Recife, onde recebeu quatro premiações.

Esse grupo de artistas e intelectuais traz uma ação importante para a região, configurada na criação da Escola de Teatro da Universidade Federal do Pará, em 1963. Em seus mais de quarenta anos de existência, a Escola de Teatro e Dança produziu uma centena de espetáculos teatrais, compondo um considerável panorama da cultura teatral, e do teatro contemporâneo.
Em Belém do Pará, o termo teatro contemporâneo esteve estreitamente ligado a denominação teatro experimental. Neste sentido, relaciona-se a uma produção artística comprometida em buscar novas experiências com a linguagem cênica na ambição de uma cena crítica e poética na relação com a cidade. O termo teatro experimental construiu-se através da conquista do Teatro Experimental Waldemar Henrique, fundado em 1979. Sua inauguração aconteceu depois de um grande movimento da categoria teatral, onde se destacou a atuação do grupo Cena Aberta, sob a liderança de Luis Otávio Barata(2), que durante anos manteve-se com sua produção de teatro de rua, a qual reivindicava a construção de um espaço teatral tendo em vista que o Teatro da Paz passava por uma longa reforma. A Fesat- Federação de Teatro do Pará é criada em janeiro de 1979, extinguindo a Fetapa que organizava seus sócios por grupos e não por membros.
Esta brevíssima história e muitas outras não poderiam ser relatadas sem o fundamental e persistente trabalho de um dos mais queridos historiadores: Professor Vicente Salles. A obra de Vicente é importantíssima para quem trabalha com arte, agora para quem faz teatro é título obrigatório na estante, pois abrange com valiosos detalhes a cena no Pará, além de referir-se aos movimentos teatrais no Maranhão e Amazonas.
Karine Jansen é performer e diretora de teatro. Professora e pesquisadora da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas da UFBA, com tese sobre a Performance da Marujada de Mulheres da cidade de Quatipuru, região do Salgado Pará . karinejansen@hotmail.com |
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(1)Vicente Salles, em épocas do teatro no Grão-Pará ou apresentação do teatro de época. Tomos I e II, Belém-PA Editora UFPA, 1994. |
(2)Luis Otávio Barata, diretor, cenógrafo, figurinista, jornalista e artista plástico. Fundou um dos mais importantes grupos de teatro no Pará o Grupo de Teatro Cena Aberta, Um dos mais respeitados encenadores do teatro no Pará. Faleceu em São Paulo em 2006. |