Ó
Serdespanto
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Em
Andara,
é
quando os homens esperam um anoitecer mais
calmo que vêm as noites da vida nos lançar
pedras de sombras
e
asas de areia
vêm
nos açoitar.
Sendo
assim em Andara: ó ser de espanto, ó
ser despanto, ó serdespanto.
Passando,
pois, aquele homem a se chamar
assim
Serdespanto.
Pois
esse o nome que lhe deram quando ele nasceu, diz-se
disso, a mãe, essa que denomina uma parte
de si que sai de si aqui para fora, humanamente,
para ser outro ser. Um outro espanto isso, deve-se
reconhecer com melancolias, resignações,
suspiros. Isso de nascer
Em
Andara, pois. Mais um tendo vindo.
De
rastros, humano.
.
Mas
depois ele já não andava mais de rastros,
esse Serdespanto.
Muito
alto,
ou
eram as nuvens que baixavam do céu para nele
roçar,
o
certo é que os seus olhos atravessavam névoas,
nadas. Uma neblina vaga sempre flutuando em torno
de sua caixinha de osso, diz-se cabeça. Posta
essa neblinazinha entre os dois buracos, diz-se
olhos, através dos quais veria a vida, e
a coisa dissimulada lá fora.
-
Maldita semi-noite, costumava dizer baixinho Serdespanto,
tropeçando nas coisas duras que ela, a sonsa,
sempre espalha à frente dos caminhos dos
homens para nos despertar, com quedas, do sonho
de estar vivo.
Assim,
a região dos murmúrios
naquele
homem ela se instalando. Se instalara.
-
Ó Serdespanto.
Lamentasse
sua mãe, da terra agora, o lhe ter aberto
a portinha que as mulheres têm entre as pernas
para nos fazer tombar aqui,
caídos
da casinha escura que elas, úmida, trazem
dentro de si
Pois depois que ele chegara ela se fora
Aquele
túmulo sendo uma outra casinha de terra onde
a mãe agora habitasse em silêncio.
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