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Histórias
Mortas
Depois
de mortas todas as histórias,
os segundos seguiram-se em suicídio.
Palavras
contrapostas ao eterno
fecharam-se em círculos.
Os
deuses foram expulsos em segredo
do céu desfeito em paraíso.
Havia
sido o riso, havia sido o medo,
a glória, havia sido.
Asas
do nada, a memória
deste corpo vazio como o espírito.
Asas
do nada, a memória
concorda, enfim, comigo.
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Inclusive
borboletas
Parei
para olhar para você
absolutamente fascinada, que sou,
pelo que é lindo.
Havia
em você um pôr-do-sol,
tons avermelhados onde se cansa o azul.
Em se tratando de chuva, você guardava
sombras do azul na água,
o próprio céu rua abaixo.
A
beleza tinha a ver com lembrança
e lembrança não tinha a ver com ausências.
Em você nunca faria falta
fazer sentido.
Depois
segui andando, outra mulher,
a do passo seguinte.
Nunca mais pude pensar em um pássaro
sem ouvir o seu canto
e ouço inclusive borboletas,
palavras escritas nas asas.
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Há
dias para as palavras
e dias mudos.
Celas
entre vozes e silêncio,
há dias impenetráveis
e dias cúmplices.
Sob
profecias e arbítrios,
há dias só para os deuses
e dias que se interrogam como
qualquer homem.
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Posso
te dar uma sala cheia de livros para que sejas um
dentre os meus livros nessa sala tua.
Posso te dar a alma que eleva um poema
e, além dela, um corpo de palavra.
Queres
ir de um estado sólido, frígido,
à incandescência da página?
Queres ser o rastro dessas letras fechando a minha
mão?
Serás
eternamente o que quer que sejas desde o início,
livre de tempo e destino. Me verás passando
como se ainda sonhasses. Como se ainda sonhasses,
não te surpreenderás comigo.
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Os
dias eram contados dentro das pausas da minha voz
e eu poderia fazer qualquer mudança que quisesse
porque toda palavra é sólida e obediente
quando se força que ela renasça.
Sempre uma nova perspectiva por onde os meus olhos
entrassem ou de onde saíssem, outros.
Para os primeiros dias fui eu a única verdadeira
razão imprescindível.
Hoje
reconheço palavras no céu azul escuro
e frases se formam antes da chuva.
Água cheia de segredos e ruas atravessando
as épocas.
Pedras cercam muros, furam arcos, sobem torres,
cruzam rios.
Eu, como as pedras que dispõem do tempo,
como as estações a cada ano envolvendo
o céu e a terra
para que uma flor se abra e arda e caia e gele.
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