O Analfabeto

A palavra come de si: pasto, dicionário
metal da língua
vazia de conteúdo
mas
oh!
tão repleta de luz
que o poema – rês assimilada
separa em vidro e sílabas.

(A palavra, ao homem roubado, rumina.)
.

Landscape

Se for ele lá fora: trágico, reticente e belo
perguntando por mim
diga que me ceguei na faca do sentimento...

E se disser: “Eu posso curá-lo!”
abra a janela
arranque-lhe a grade
afaste docemente as cortinas
e lhe diga:

“Ele está morto, o poeta. Está em fuga...”
.

Flores da Campina
ao Érico

A fronte coroada
a estrela Dalva
o corpo sorve o ópio da noite sagrada.

Belo
putrefato
corta e o exsuda – Oh, Bar do Parque!
o cortejo de crianças traídas
anjos costurados à mão
estivadores com buquês
assassinos sorrindo quimeras
poetas negociando sudários.

(Caminhando sobre a glória da raça humana.)

Um clown morto gargalhando me fascina:
se pudesse
enfeitar-lhe-ia a solidão do corpo
com a luz do meu.

Com meus versos, meus terços, meu ciúme
e o perfume de flores da campina envenenadas...
.

Lírica
a certo garoto

ODe uma distancia de setentas flores
sente-se a poezia exalando
da pele
da pétala
do talo sagrado.

O perfume que arde crisálida infantil.

Negra inocência
lírica indecência.

Que antecedem à rosa do poema
.

Gigante
esta chuva caindo em mim freneticamente.
.
Tua cabeça gargalhando da mangueira mais alta enquanto tiro agulhas de ouro da tua carne
para atravessar caminhos sem atalhos...
.
Nos porões do humano coração
anjos tocam trombetas
cortam-se asas
organizam o caos.
.
E esta chuva frenética caindo em mim
só em mim
apenas em mim...
.

Dand M.
lorddand@hotmail.com
tel 55 91 3243 4618 / 3243 8663